segunda-feira, 2 de maio de 2011

Cheiro de passado





Somos feitos de lembranças do passado que nos acompanham diariamente. Essas fotografias mentais vêm, eufóricas como o vento sul que sopra ao entardecer, e se vão tão rapidamente quanto chegam, como a fumaça que se dissipa no ar. Quando criança, passei muitas tardes assistindo Hitchcock e algumas tantas outras vendo a minha mãe ouvindo os discos do Ritchie ou meu pai os do Roberto Carlos. Eu adorava Psicose, com toda a sua nuance patológica e de mistério. Instigava-me, sabe? Punha-me em alerta! E também adorava aquelas canções que nos enchiam de cor e ajudava a dar forma a casa, transformando-a num lar. O Ritchie era vibrante, alegre. O Roberto era romântico, apaixonado, beirando a depressão. Ainda hoje gosto de ambos e do Alfred Hitchcock também. Vocês não sabem, mas em minha cabeça, naquela época, o Ritchie e o Anthony Perkins eram a mesma pessoa. Cresci achando isso. E hoje, aos 33 anos de idade, sei que eles não são a mesma pessoa, claro! Mas ainda assim, em minha cabeça, imaginativa, a imagem de um está diretamente associada à do outro. [rsrsr] Não me tornei um psicopata por assistir a todos os Psicoses, por colecionar filmes de suspense em casa, ou por querer morar numa réplica da casa dos Bates, é bem verdade. Eu nem tenho essa vocação, até porque, nunca suportei sentir o cheiro de sangue. Todavia, esse tipo de filme é a minha droga, a minha cachaça, meu prazer obscuro e secreto. Não salto de bungee jump, não voo de asa delta, nem me aventuro em vertiginosas montanhas russas nos parques. Não tenho coragem suficiente para tais coisas, então, para a minha vida não ficar tão morna, romântica e sem graça, me permito sofrer e suar as mãos, já que ficar paralisado diante de um filme tenso me enche de adrenalina, me faz temer, pular, gritar de susto, descarregar as tensões e exorcizar meus demônios, como se tudo aquilo fosse real. Quando o thriller termina e os créditos sobem à tela em letras brancas, sob um fundo escuro, geralmente embaladas por um heavy metal, sinto-me purgado, como se tivesse passado por aquelas situações e sobrevivido a todas. [...] Mas por que estou falando disso agora? Dessas lembranças remotas? Dos filmes de suspense do Hitchcock? É que ando meio saudosista e estou agora a ouvir as canções do Ritchie, nesta manhã incerta e chuvosa de outono. Ah! As lembranças. Elas povoam a minha mente inquieta.




Um comentário:

  1. Somos todos muito suspeitos para falar do passado e das lembranças q ele nos deixa... se vou começar a falar disso então prefiro postar no Pescador de Informação, porque aqui eu iria concorrer com seu texto (q está mt bem feito).
    Agora, em resposta aos teus últimos comentários lá no PdeI, (1) não encontrei o vocábulo "lepíodo" no Aurélio (q tem sido a minha fonte principal), se vc tiver uma fonte segura me diz q eu coloco lá em tua homenagem, rss. (2) a troca de corpos seria uma louca aventura sem dúvida, mas desse tipo de aventura estou tão fora qto vc das montanhas russas, rss. Agora do bungee jump estou tão dentro qto vc dos horror's films, rss. Beijão meu querido, fiquei comovida com o "amamos vcs" do final... sinto q compartilhamos do mesmo sentimento. Grande abraço

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