Silêncio e frio (onde antes havia cor)

Onde está a lógica entre a vida e a morte? Sinceramente não saberia dizer a resposta. Todos nós vivemos dias de glória e pesadelo. De alegria e sofrimento. De agonia e apelo. De luta e de falta. Sei que blasfemo, porque sou humano, logo, às vezes, paro e penso que a vida nem sempre é justa ou que nem sempre a natureza é sábia. Por exemplo, alguns querem tanto um filho, mas não são agraciados. Outros que não querem tê-los, ou sequer sabem amá-los, os têm aos montes. (...) Mas por que estou a divagar? Eu explico: É que hoje eu perdi uma colega de farda muito querida e muito admirada. Nunca havíamos trabalhado juntos, é bem verdade, mas sempre pude, nos curtos e raros momentos em que nos cruzávamos no quartel, sentir em seus olhos ternos e em seu sorriso de menina, a doçura e leveza que pairavam em sua breve existência. Ela nos deixou esta tarde, precocemente, vítima de um acidente de trânsito quando retornava de uma cidade vizinha onde fora matricular-se no curso de odontologia. Sim, a Emanuelle teria um futuro grande e brilhante pela frente. Aos 22 anos, ela já era Oficiala da Polícia Militar, mas nunca deixou que seu cargo ou posição influenciasse sua personalidade ou interferisse no trato condigno com seu semelhante. Sei que é pecado, mas infelizmente não consigo deixar de pensar que muita gente ruim, de fato, permanece viva espalhando um rastro febril de destruição, tristeza e morte por onde passa e, no entanto, permanece viva e ilesa a desfrutar o mundo e toda a liberdade. E isso me revolta! Gostaria de pedir perdão a Deus, caso, em algum momento, eu tenha pensado ou dito alguma bobagem, mas é que, francamente, não dá para entender. Paro por aqui. Que Deus, com sua imensa bondade, possa confortar essa família e, com serenidade, secar todas as lágrimas. Que a alma da Emanuelle possa descansar em paz. (muito triste)