Cai o pano

Hoje pela manhã, após o café, eu sentei-me no sofá da sala, pus um disco para tocar e escutei a canção Poema, na voz do Ney Mato Grosso. Eu gosto dessa canção há bastante tempo. Sempre que a escuto lembro-me dos meus pais, dos meus medos infantis e do quanto era fácil viver, enquanto eu era ainda uma criança e sempre tinha proteção, alguém para enxugar as minhas lágrimas e me dar consolo. O ruim da idade adulta é perceber que o mundo real é meio sem graça, em tom de cinza, e que os nossos pais não são aqueles super-heróis que a gente imaginava. Foi, para mim, um choque tremendo perceber que eles são humanos como eu. Que apesar de eles terem experiência de vida, boas intenções e tal, eles são falíveis e que por isso, é fadado a eles o direito de sofrer, chorar, sentir dor, mentir, partir ou morrer. Ao crescermos percebemos que a Xuxa ganhava salário para fazer a gente feliz, que o coelhinho da Páscoa e o papai Noel não existem além da nossa imaginação, e que o fim da falta d’água no Nordeste é mera promessa eleitoreira. Não pensem que estou desgostoso com a vida, não é isso. Estou apenas passando para o papel, digo, para o blog, o filme que passou em minha mente Meio Desligada nesta manhã, enquanto eu escutava a letra do Frejat e do Cazuza.

Poema

Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento, a tempo

Eu acordei com medo e procurei no escuro

Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo

Porque o passado me traz uma lembrança

Do tempo que eu era criança

E o medo era motivo de choro

Desculpa pra um abraço ou um consolo

Hoje eu acordei com medo mas não chorei

Nem reclamei abrigo

Do escuro eu via um infinito sem presente

Passado ou futuro

Senti um abraço forte, já não era medo

Era uma coisa sua que ficou em mim, que não tem fim

De repente a gente vê que perdeu

Ou está perdendo alguma coisa

Morna e ingênua, que vai ficando no caminho

Que é escuro e frio mas também bonito

Porque é iluminado

Pela beleza do que aconteceu

Há minutos atrás

[Cazuza / Frejat]