domingo, 4 de julho de 2010

24 horas



Hoje pela manhã saí de um serviço de 24 horas, mas foi legal tirá-lo porque pude sair da rotina dos meus serviços de 6 horas diárias, de Segunda à Sexta-feira. Apesar de ter saído da minha "zona de conforto" e de ter ficado acordado em meu 3º plantão, que foi de 1 às 4 horas da madrugada, posso dizer que o serviço foi tranquilo, e por que não dizer divertido? Afinal, ao sair do meu círculo de amizades trabalhei com outras pessoas e pude, por fim, conhecê-las mais de perto. É sempre bom conhecer gente nova! O Halla, por exemplo, nossa! Esse aí, como conta lorotas... Foram muitas gargalhadas e conversas jogadas fora nas horas de descanso. Nas horas de serviço, Deus estava ao meu lado o tempo todo. Eu tenho certeza! Sobretudo durante o plantão noturno, pois pude sentir a presença dele ao reduzir, por minha causa, o frio glacial das madrugadas geladas, relatado por meus colegas de farda, que o enfrentaram nas noites anteriores. Para suportar a pressão de três horas ininterruptas de plantão noturno numa guarida solitária, contei com a companhia do meu bom e velho MP4, companheiro inseparável das horas ociosas. Ele estava sempre à mão, digo ao ouvido, quando eu ia para a UESC de ônibus, antes de me formar, e ainda hoje também, quando preciso pegar ônibus. [bem, voltando à noite passada] É engraçado como em todo quartel tem que ter cachorro abandonado. Eles se sentem acolhidos nas casernas e fazem companhia às sentinelas. Ouvi inúmeras histórias contadas pelo Halla, sobre o falecido Caetano, ex-cão de rua que passou a viver no 2º BPM desde a minha época de recrutamento, em 2003. O quartel era a sua casa. Ele fazia companhia às sentinelas e ficava sempre alerta. Caetano, antes de morrer de velhice e de ser sepultado no próprio quartel, já era quase um militar condecorado. Era leal, assíduo, presente e acima de tudo companheiro. Um genuíno modelo de funcionário público. Ontem, enquanto sentinela por um dia, foi a minha vez de desfrutar da companhia desses verdadeiros amigos de quatro patas. Era um casal de vira latas, a quem, carinhosamente batizei de Pitoco e Luca. Eu sei que esses nomes são típicos nomes de cachorro de pobre, mas é que eles tinham umas caras de pidões, sofridos e carentes. E quando eles se aproximaram de mim, lá pelas tantas, não desgrudaram mais. Foi só eu dar atenção e desprender um pouco de carinho que eles logo se renderam e nos tornamos grandes amigos de infância. O silêncio da madrugada só era cortado pelo coaxar dos sapos nos fundos do estacionamento, pelo piar do bando de quero-quero nas gramas úmidas do campo de futebol do quartel, pelo ladrar dos cães da vizinhança e pela laúsa das gatas no cio. Não fosse o barulho do ar condicionado do caixa eletrônico instalado ao lado da guarida e o piscar de lâmpadas nos quarteirões que ficam de frente para o batalhão, eu diria que estava no meio da selva. “Pitoco” e “Luca” permaneceram acordados comigo o tempo inteiro. Alertas ao menor barulho das folhas secas sendo levadas pelo vento que assoviava na noite ameaçadora e traiçoeira. E assim, na companhia dessas leais criaturas, a madrugada já se ia e meu plantão, aos poucos, terminava. Foi um serviço a menos para eu tirar na minha militar trajetória. Lá estava eu entre os cães, gatos, sapos e bando de quero-quero: “Perdido e salvo!”.

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